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segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Fernando Pessoa (1888-1935)

Fernando António Nogueira Pessoa nasce em Lisboa em 1888.
Após a morte do pai, causada por tuberculose, a família foi obrigada a leiloar parte dos seus bens e após o segundo casamento da mãe, por procuração, com o comandante João Miguel Rosa, cônsul de Portugal em Durban, Fernando Pessoa parte com a mãe e um tio avô para a África do Sul (Durban).
Em 1894 cria o seu primeiro heterónimo, Chevalier de Pas.
Frequenta várias escolas, recebendo uma educação inglesa, passando por um colégio de freiras irlandesas da West Street (1897), e pela Durban High School, onde cria o heterónimo Alexander Search (1899). A partir de 1901 escreve os primeiros poemas em inglês.
A familia volta a Lisboa em 1902, mas Pessoa voltou sozinho para a África do Sul. Em 1903 submeteu se ao exame de admissão à Universidade do Cabo da Boa Esperança. Não obteve uma boa classificação, mas tirou a melhor nota entre os 899 candidatos no ensaio de estilo inglês.
Em 1904 terminou os seus estudos na África do Sul.
Regressa a Portugal em 1905 e fixa-se em Lisboa, onde se matricula no Curso Superior de Letras (que abandona em 1907). Foi a partir desta data que começou a sua intensa actividade literária, continuando a escrever poemas em inglês.
Em 1910, escreve poesia e prosa em português, inglês e francês.
Em 1912, Pessoa estreou-se como crítico literário, provocando polémicas junto à intelectualidade portuguesa. Em 1913 escreveu "O Marinheiro". Em 1914, devido à sua capacidade de "outrar-se", criou mais heterónimos (Alberto Caeiro (criado em 1914 e "morto" em 1915), Álvaro de Campos, Ricardo Reis, Bernardo Soares, etc.), assinando as suas obras de acordo com a personalidade de cada heterónimo. Foi também neste ano que escreveu os poemas de "O Guardador de Rebanhos" e o "Livro do Desassossego".
Simpatizante da Renascença Portuguesa, no início, afastou-se depois, e em 1915 com Mário de Sá Carneiro e Almada Negreiros entre outros, esforçou-se por renovar a literatura portuguesa através da criação da revista Orpheu (cujo primeiro número saiu em 1915), veículo de novas ideias e novas estéticas. Em 1916 suicidou-se em Paris o seu grande amigo Mário de Sá Carneiro. Em 1918, Pessoa publicou poemas em inglês, resenhados com destaque no "Times". Em 1921 fundou a editora Olisipo, onde publicou poemas em inglês.
Em 1924 surgiu a revista "Atena", dirigida por Fernando Pessoa e Ruy Vaz. Em 1926, Fernando Pessoa requereu patente de invenção de um Anuário Indicador Sintético, por Nomes e Outras Classificações, Consultável em Qualquer Língua e dirigiu, com o seu cunhado, a Revista de Comércio e Contabilidade.
Em 1927 passou a colaborar com a Revista "Presença". Em 1934 publicou "Mensagem", que ganhou no mesmo ano o concurso literário promovido pelo Secretariado de Propaganda Nacional, categoria B.
Em 29 de Novembro de 1935, foi internado com o diagnóstico de cólica hepática. A sua última frase, escrita em inglês, dizia: "I know not what tomorrow will bring". Morreu no dia 30, com 47 anos, deixando grande parte da sua obra ainda inédita. Fernando Pessoa é considerado universalmente um dos maiores poetas de sempre.
Livros e colectâneas de poesia publicadas em vida:
"35 sonnets", 1918.
"Antinous", 1918.
"English Poems I II", 1921.
"English Poems III", 1921.
"Mensagem", 1934.
Obras publicadas após a sua morte:
"Obra poética Obras Completas de Fernando Pessoa"
"Poesias de Fernando Pessoa",1ªed. 1942
"Poesias de Álvaro de Campos", 1ªed. 1944
"Poemas de Alberto Caeiro", 1ªed. 1946
"Odes de Ricardo Reis", 1ªed.1946
"Poemas Dramáticos", 1ªed 1952
"Poesias Inéditas de Fernando Pessoa (1930 1935)", 1ªed. 1955
"Poesias inéditas de Fernando Pessoa (1919 1935)", 1ªed. 1956
"Quadras ao Gosto Popular de Fernando Pessoa", 1ªed. 1965
"Novas Poesias Inéditas", 1ªed.1973
"Poemas Ingleses publicados por Fernando Pessoa", 1ªed. 1974
"Obra Poética de Fernando Pessoa", 1986
"O Guardador de Rebanhos de Alberto Caeiro", 1986
"Primeiro Fausto", São Paulo, 1986.
Obra em Prosa e Epsitolografia:
"A Nova Poesia Portuguesa", 1944
"Cartas de Amor de Fernando Pessoa", 1ªed., 1978
"Cartas de Fernando Pessoa a Armando Cortes Rodrigue"s, 3ªed., 1985
"Cartas de Fernando Pessoa a João Gaspar Simões", 2ªed., 1982
"Da República", Lisboa, 1ªed. 1979
"Fernando Pessoa O Comércio e a Publicidade", 1986.
"Livro do desassossego por Bernardo Soares", 1982, 2vol.
"Obra em Prosa", Rio de Janeiro, 1974.
"Obras em Prosa de Fernando Pessoa", 1987.
"Escritos Íntimos, Cartas e Páginas Auto Biográficas"
"Textos de Intervenção Social e Cultural A ficção dos Heterónimos"
"Ficção e Teatro O Banqueiro Anarquista, Novelas Policiárias, O Marinheiro e Outros"
"A Procura da Verdade Oculta Textos Filosóficos e Esotéricos"
"Portugal, Sebastianismo e Quinto Império"
"Páginas de Pensamento Político I" (1910 1919)
"Páginas de Pensamento Político II" (1925 1935)
"Páginas de Doutrina Estética", 1946
"Páginas de Estética e de Teoria e Crítica Literárias"
"Páginas Íntimas e de Auto Interpretação", 1ªed.1966
"Sobre Portugal",1ªed.1979
"Textos Filosófico"s, 1ªed.1968, 2vol
"Textos para Dirigentes de Empresas", 1969
"Textos de Crítica e de Intervenção", 1ªed. 1980
"Ultimatum e Páginas de Sociologia Política", 1ªed.1980.
O espólio literário de Fernando Pessoa, (guardado na sua famosa arca onde guardava a sua obra para a posteridade) que se encontra em casa de sua irmã, D. Henriqueta Madalena Nogueira Rosa Dias, e cuja inventariação, promovida pelo Ministério da Educação Nacional, terminou em julho de 1972, compreende, além de 29 cadernos de variado conteúdo, 25.426 originais (escritos pelo poeta) assim repartidos: manuscritos: 18.816; datilografados: 3.948; mistos: 2.662. Boa parte destes originais, em prosa e verso, encontram-se inéditos, avultando entre eles os fragmentos para o Livro do Desassossego de Bernardo Soares, decerto a obra esteticamente mais importante das que continuam por publicar. Há ainda textos sobre Política, Sociologia, História, etc., poesia em inglês, textos de ficção, etc.


NOTA BIOGRÁFICA ESCRITA POR FERNANDO PESSOA
[com a data de 30 de Março de 1935]

Nome completo: Fernando António Nogueira Pessoa

Idade e naturalidade: Nasceu em Lisboa, freguesia dos Mártires, no prédio n.º 4 do Largo de São Carlos (hoje do Directório) em 13 de Junho de 1888.

Filiação: Filho legítimo de Joaquim de Seabra Pessoa e de D. Maria Madalena Pinheiro Nogueira. Neto paterno do general Joaquim António de Araújo Pessoa, combatente das campanhas liberais, e de D. Dionísia Seabra; neto materno do conselheiro Luís António Nogueira, jurisconsulto e que foi director-geral do Ministério do Reino e de D. Madalena Xavier Pinheiro. Ascendência geral - misto de fidalgos e de judeus.

Estado: Solteiro.

Profissão: A designação mais própria será «tradutor», a mais exacta a de «correspondente estrangeiro em casas comerciais». o ser poeta e escritor não constitui profissão mas vocação.

Morada: Rua Coelho da Rocha, 16, 1.º dt.º, Lisboa. (Endereço postal - Caixa Postal 147, Lisboa).

Funções sociais que tem desempenhado: Se por isso se entende cargos públicos, ou funções de destaque, nenhumas.

Obras que tem publicado: A obra está essencialmente dispersa, por enquanto por várias revistas e publicações ocasionais. o que, de livros e ou folhetos, considera como válido, é o seguinte: «35 Sonnets» (em inglês), 1918; «English Poems I-II» e «English Poems III», (em inglês também), 1922 e o livro «Mensagem», 1934, premiado pelo Secretariado de Propaganda Nacional, na categoria «Poemas». o folheto «O Interregno», publicado em 1928 e constituindo uma defesa da Ditadura Militar em Portugal, deve ser considerado como não existente. Há que rever tudo isso e talvez que repudiar muito.

Educação: Em virtude de, falecido o seu pai em 1893, sua mãe ter casado, em 1895, em segundas núpcias, com o comandante João Miguel Rosa, cônsul de Portugal em Durban, Natal, foi ali educado. Ganhou o prémio Rainha Vitória de estilo inglês na Universidade do Cabo da Boa Esperança em 1903, no exame de admissão, aos 15 anos.

Ideologia política: Considera que o sistema monárquico seria o mais próprio para uma nação organicamente imperial como é Portugal. Considera, ao mesmo tempo, a Monarquia completamente inviável em Portugal. Por isso, a haver um plebiscito entre regimes, votaria, com pena, pela República. Conservador do estilo inglês, isto é, liberal dentro do conservadorismo, e absolutamente anti-reaccionário.

Posição religiosa: Cristão gnóstico e portanto inteiramente oposto a todas as Igrejas organizadas, e sobretudo á Igreja de Roma. Fiel, por motivos que mais diante estão implícitos, à Tradição Secreta do Cristianismo, que tem íntimas relações com a Tradição Secreta em Israel (a Santa Kabbalah) e com a essência oculta da maçonaria.

Posição iniciática: Iniciado, por comunicação directa de Mestre a Discípulo, nos três graus menores da (aparentemente extinta) Ordem Templária de Portugal.

Posição patriótica: Partidário de um nacionalismo mítico, de onde seja abolida toda a infiltração católica-romana, criando-se, se possível for, um sebastianismo novo, que a substitua espiritualmente, se é que no catolicismo português houve alguma vez espiritualidade. Nacionalista que se guia por este lema: «Tudo pela Humanidade, nada contra a Nação».

Posição social: Anticomunista e anti-socialista. O mais deduz-se do que vai dito acima.

Resumo destas últimas considerações: Ter sempre na memória o mártir Jacques de Molay, grão-mestre dos Templários, e combater, sempre e em toda a parte, os seus três assassinos - a Ignorância, o Fanatismo e a Tirania.

Lisboa, 30 de Março de 1935.

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Ao longe, ao luar


Ao longe, ao luar,
No rio uma vela,
Serena a passar,
Que é que me revela ? Não sei, mas meu ser
Tornou-se-me estranho,
E eu sonho sem ver
Os sonhos que tenho. Que angústia me enlaça ?
Que amor não se explica ?
É a vela que passa
Na noite que fica.





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